sábado, 5 de novembro de 2011

* Examine a consciência

Ajustamento (A Justiça) e O Éon (O Julgamento) ~ Crowley-Harris Thoth Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

Dentre todas as minhas experiências com a espiritualidade que vão para além da pura teoria, tive a oportunidade de conhecer a Doutrina do Santo Daime. Basicamente, um chá alcaloide xamânico (Ayahuasca) é servido durante um rito de concentração e, enquanto a percepção é aberta e acelerada, hinos são tocados com violão e maracá, acompanhados do canto dos participantes, para que se trabalhe uma linha de pensamento focada no processo de transformação pessoal.

Num misto de cultura da floresta, pinceladas afro-umbandistas e simbolismo cristão-católico, com a percepção voltada para o astral, os hinos tomam uma forma belíssima de som, cujo ponto importante de conscientização do indivíduo está justamente na letra, explicitamente, daquilo que é cantado. A porta, que leva das trevas da ignorância à luz da razão (Deus Pai - Deusa Mãe), proporciona precisamente o acesso da mensagem versus a auto-análise, com o objetivo óbvio de que a pessoa pense, avalie a si mesma e mude sua atitude perante a vida.

Participei poucas vezes, creio que foram somente cinco ao longo de cinco anos. Mas minha perspectiva pessoal se alterou muito após o processo e posso dizer que sim, aprendi, procurei melhorar a mim mesmo e entendi passos do meu caminho espiritual. Foi como um processo de iniciação onde, tudo o que houve antes foi apenas teoria e ali eu pude ver, indubitavelmente, a existência sólida e presente de um mundo "astral" ou "espiritual".

Auto-análise. Este tema tem estado presente em minha vida durante alguns anos. Busquei formação em terapia floral de Bach, autoconhecimento com o tarô, cabala hermética, transformação interior e espiritualidade independente para ter um pacote completo e poder realizar minhas próprias análises com sucesso. Não basta apenas dar-me conta dos meus erros ou pré-disposições em errar. Mas transformar as atitudes.

Bela e ricamente vejo estampadas nas lâminas do tarô de Thoth (Crowley-Harris), especialmente no Ajustamento e O Éon, a culminação pictórica deste processo interior. No Ajustamento, percebo a tentativa de alinhamento, busca de equilíbrio e exatidão, configuradas na imagem feminina de Maat, vendada, para que o indivíduo seja convidado a passar por cima de sua própria vaidade e enxergue em si mesmo aquilo que está em desalinho.

Por outro lado, o Éon mostra a continuidade do processo. Uma vez alinhado, tendo aprendido a escolher lá atrás, em Os Amantes, o indivíduo é convidado a perceber com responsabilidade suas atitudes. Ação e reação, claramente expostas. Responsabilidade sobre aquilo que expressa, a forma como age, as palavras que fala e a consequência de suas escolhas. O dedo de Khonsu, aqui, evoca o silêncio e também contemplação.

Juntas, seriam um pare, analise, observe a si mesmo e reflita sobre as atitudes que toma. Seja fiel à balança. Ao equilíbrio. Aos seus acordos. E aqui, apresento um dos hinos do Santo Daime, que cabe perfeitamente neste contexto. "Examine sua consciência", parte da "Oração do Padrinho Sebastião", é o hino introdutório do hinário que serve-se como a apresentação da mensagem doutrinária àqueles que querem conhecer a doutrina em si.

Examine a consciência


"Examine sua consciência" ~ Oração do Padrinho Sebastião ~ Fonte: Santodaime.Org

Examine a consciência
Examine direitinho
Sou Pai e não sou filho
Mas eu não faço assim

Chamo de um a um
A todos eu mostro o caminho
Fazendo como eu mando
Tudo fica bem facinho

Todos podem se lembrar
Do tempo de Noé
A doutrina do meu Pai
Eu ensino como é

Vamos meus irmãos
Vamos todos se humilhar
Pedir nosso perdão
Para o nosso Pai nos perdoar

Quem quiser que se aguente
Não tem a quem se queixar
Eu bem que avisei
Que havia de chegar

Encontrado em: Santodaime.org

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terça-feira, 25 de outubro de 2011

* Principado poético

A realeza do tarô nos presenteia com 16 figuras humanas. Um cavaleiro, uma rainha, um príncipe e uma princesa, para cada naipe. Ou, conforme os baralhos, pode ocorrer alteração nos nomes, como o cavaleiro ser o rei, a rainha a dama, o príncipe um valete e a princesa o pajem ou o escravo.

Independente das nomenclaturas, estas 16 figuras retratam 16 tipos de atitudes padrões humanas, assim como tipos de personalidade. Ultimamente, estou estudando a possibilidade da personalidade da pessoa ser retratada em uma carta principal, porém, as 3 restantes, de mesmo nome, mas dos outros naipes, ainda assim falam sobre os padrões de atitudes que toma.

Eu me identifico naturalmente com o Príncipe de Paus. Assim sendo, minha estrutura de personalidade compreenderia a presença dos outros 3, em Espadas, Copas e Ouros. Por sincronicidade da Fortuna, fui apresentado a 4 poesias, que retratam conteúdos relacionados aos Príncipes. Na ordem Espadas (a mente), Copas (as emoções), Paus (a energia/ação) e Ouros (a matéria), compartilho esta visão singular, mas que criou em mim um entendimento dos meus próprios aspectos interiores.

Príncipe de Espadas


Príncipe de Espadas ~ Crowley-Harris Thoth Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

AVANÇO AO RETROCEDER


Viagem, bagagem.
Divago em bobagens
... mãos firmes no volante,
pés ágeis.. sigo em frente,
enfrento longa viagem.
À frente, o futuro
Enfrento um passado duro
sigo ao seu encontro.
Seguindo.. viajo para trás
... lembranças, volto no tempo
e, ele para mim jamais!


Rogessi de A. Mendes (Esther). Como publicado em: Luso-poemas.net

Príncipe de Copas


Príncipe de Copas ~ Crowley-Harris Thoth Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

POEMA DO NADADOR


A água é falsa, a água é boa.
Nada, nadador!
A água é mansa, a água é doida,
aqui é fria, ali é morna,
a água é fêmea.
Nada, nadador!
A água sobe, a água desce,
a água é mansa, a água é doida.
Nada, nadador!
A água te lambe, a água te abraça
a água te leva, a água te mata.
Nada, nadador!
Senão, que restara de ti, nadador?

Nada, nadador.


Jorge de Lima. Do livro: "Poemas - Jorge de Lima" [selecão de Gilberto Mendonca Teles] , Global Editora e Distr. Ltda, 1994, SP

Príncipe de Paus


Príncipe de Paus ~ Crowley-Harris Thoth Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

ENCARA O DESAFIO DO TEU JEITO


Levanta a mente do corpo calado
Acorda os pensamentos corretos
Que o dia já anda acordado

Encara o desafio do teu jeito
Como mesmo fosse a coisa última
A ter no mundo o teu conceito

A coisa se faz com cuidado...
A coisa se faz com respeito...
Não se faz a coisa forçado...

Que tua alma voará num céu eleito
Que o dia aclarará a tua vida
Que vida brotará no teu peito

E a coisa vai ser para ti
O que sempre imaginaste
Que a coisa seria em si:

Menos força, mais jeito.


Gê Muniz. Como publicado em: Luso-poemas.net

Príncipe de Ouros


Príncipe de Ouros ~ Crowley-Harris Thoth Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

PEDRAS, PÉTALAS... PÓ.


Nas ruas da nossa vida
Pisamos pedras rolantes
Que nos levam à porfia
De caminhos tão errantes!

Às vezes temos guarida,
Às vezes, deambulantes,
Não passamos de vadios
Meras sombras caminhantes...

E as pedras do caminho
Podem ser pétalas soltas
Aos pés do nosso destino...

Ou armas de arremesso,
Se deixarmos as revoltas
Revelarem o avesso.

"Pedras a quem me confesso,
Cumpridas todas as voltas,
Sereis só pó, no regresso..."


Teresa Teixeira (Videira). Como publicado em: Luso-poemas.net

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domingo, 23 de outubro de 2011

* Nada mudou, mas tudo

O Mundo ~ I Tarocchi del Rinascimento ~ Fonte: Albideuter.de

Às vezes, por demais até, tento controlar o incontrolável. Talvez seja orgulho da minha parte, sei disso. Não admitir que sou apenas uma pessoa comum, presa ao vai-e-vem da Fortuna. E, dada a minha natureza, acredito que a reação nem sempre é muito saudável.

Reavaliando pontos-de-vista. Creio que esse meu ano tem me ensinado isso. Em determinados aspectos, aprendi bem e continuo seguindo promovendo transformação. Mas, no que tange principalmente à presença de outras pessoas, as dificuldades são reais. O mundo dos relacionamentos não é fácil, seja a nível profissional, pessoal, social, amistoso ou afetivo. Cada pessoa é um desafio, é uma esfinge, é um mistério a ser desvendado e, conforme o desafio, reajo em busca das respostas.

Mas tem horas que tudo o que quero é poder deitar em um leito gramado, o chão acolchoado e acolhedor da Terra. Poder encarar o pôr-do-sol, deixar as memórias boas do dia seguirem seu rumo e olhar para um céu que me inspire ao anoitecer, um céu estrelado, para viajar na esperança de alcançar meus sonhos, enquanto olho As Estrelas.

Eu ainda tenho pouco a dizer. Muito a sentir. Muito a expressar. Mas as pequenas experiências, os pequenos gestos, devem ser vivenciais. Sentidos na Alma. Para que minha Alma me mostre o sentido.

E hoje é o que venho fazer. Uma música de pôr-do-sol. De olhar um céu estrelado. De esperar para que a vida mostre seu caminho, descortine a estrada e rezar à Deusa para que minhas pernas permaneçam fortes e prossigam caminhando. Quero deixar de ser Atlas e tentar carregar O Mundo comigo. Apenas para vivê-lo, como ele é, por si mesmo. Comunhão.

Assim, sou pão, sou paz, sou mais. Gratidão, à Alma, pela jornada. E por cada uma das pessoas que cruza o meu caminho, como verdadeiros Mestres, sempre aprendo. E sigo aprendendo.


Soy pan, soy paz, soy más



"Soy Pan, Soy Paz, Soy Más" ~ Versão de Mercedes Sosa & Piero ~ Original: 1981 ~ Composição: Piero De Benedictis ~ Tradução: Letras.com.br


Yo so-o-oy, yo so-o-oy, yo so-o-oy
Eu sou, eu sou, eu sou
soy agua, playa, cielo, casa, planta,
sou água, praia, céu, casa, planta,
soy mar, Atlántico, viento y América,
sou mar, Atlântico, vento e América,
soy un montón de cosas santas
sou um monte de coisas santas
mezcladas con cosas humanas
misturadas com coisas humanas
como te explico... cosas mundanas.
como posso dizer... coisas mundanas.

Fui niño, cuna , teta, techo, manta,
Fui menino, berço, peito, teto, cobertor,
más miedo, cuco, grito, llanto, raza,
e medo, bicho-papão, grito, choro, raça,
después mezclaron las palabras
depois mesclaram as palavras
o se escapaban las miradas
ou escapavam-se os olhares
algo pasó... no entendí nada.
algo aconteceu... não entendi nada.

Vamos, decime, contame
Venha, me diga, me conte
todo lo que a vos te está pasando ahora,
tudo o que está lhe acontecendo agora
porque sino cuando está el alma sóla llora
porque senão quando fica a alma sozinha, chora
hay que sacarlo todo afuera, como la primavera
tem que pôr tudo pra fora como faz a primavera
nadie quiere que adentro algo se muera
ninguém quer que lá dentro alguma coisa morra
hablar mirándose a los ojos
falar olhos nos olhos
sacar lo que se puede afuera
pôr tudo que puder pra fora
para que adentro nazcan cosas nuevas.
para que nasçam dentro coisas novas.

Soy, pan, soy paz, sos más, soy el que está por acá
Sou pão, sou paz, és mais, sou o que está por aqui
no quiero más de lo que me puedas dar, uuuuuuh
não quero mais do que possas dar-me
hoy se te da, hoy se te quita,
hoje te dão, hoje te tiram,
igual que con la margarita... igual al mar,
que nem se faz com a margarida... igual ao mar,
igual la vida, la vida, la vida, la vida...
igual à vida, a vida, a vida, a vida...

Vamos, decime, contame
Venha, me diga, me conte
todo lo que a vos te está pasando ahora,
tudo o que está lhe acontecendo agora,
porque sino cuando está el alma sóla llora
porque senão quando fica a alma sozinha, chora
hay que sacarlo todo afuera, como la primavera
tem que pôr tudo pra fora como faz a primavera
nadie quiere que adentro algo se muera
ninguém quer que lá dentro alguma coisa morra
hablar mirándose a los ojos
falar olhos nos olhos
sacar lo que se puede afuera
pôr tudo que puder pra fora
para que adentro nazcan cosas nuevas. (BIS)
para que nasçam dentro coisas novas

cosas nuevas, nuevas, nuevas . . . nuevas
coisas novas, novas, novas... novas

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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

* O amor, a música e o tarô

Fortuna ~ Crowley-Harris Thoth Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

Talvez, uma das coisas mais contraditórias que poderia-se afirmar sobre o Arcano X, Fortuna, ou a Roda da Fortuna, é que ela trata de um nobre e velho sentimento conhecido, o amor. Qualquer tarólogo derrubaria meu argumento em dois segundos, faria vista grossa ou poderia me acusar de liberdade de interpretação ou rearranjo simbólico.

Ainda assim, após reflexões contínuas, vou exercer meu direito de teimosia e talvez descortinar um símbolo tão enigmático como a esfinge ou então que se torna tão evidente no momento em que o ser é tomado pela flecha do cupido, apaixona-se e, em poucos reveses, permite-se mergulhar no amor.

É mais do que óbvio relacionar o amor ou o apaixonar-se ao Arcano VI, Os Amantes ou O Enamorado. Talvez pelo próprio simbolismo clássico retratar uma escolha entre duas pessoas, dois caminhos ou, em outros baralhos, um casamento alquímico sendo realizado. Mas a obviedade se encerra dentro de um limite contextual.

Afinal, para haver dúvida é preciso haver opções. Para namorar, é preciso haver um parceiro para você. O pacote está pronto aqui. A panela já estava fervendo, com água, sal e óleo, só falta agora colocar a massa e cozinhá-la por 8 minutos ou até o ponto desejado. Enquanto em outra, o molho acompanhante está prestes a evaporar todo seu excesso de água e atingir a cremosidade ideal. Que o molho cobrirá abundantemente a massa e o conjunto salpicado por queijo, isso até quem não sabe fritar um ovo já está careca de saber. Eu, pelo menos sei que não estava com fome enquanto escrevia este post.

O simbolismo do Arcano VI se encerra em si mesmo e contextualiza todo o decorrente. Mas não explica como é que tudo funciona em si. Não explica como foi preparado o molho (ah, comida de novo não!), ou melhor, não explica como os elementos envolvidos na questão foram levados àquele "status quo". Então, o que realmente implica no antes, no agora e no depois, cujo resultado se dá numa escolha ou casamento, simbolizado na carta em foco?

O Enamorado ~ Spanish Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

Da cozinha, vou apelar para a História. Na época em que se tem notícia do surgimento do tarô na Europa medieval, a questão dos relacionamentos afetivos eram muito importantes no quesito em que representavam a união política de duas entidades familiares (leia-se aqui as que detinham algum impacto social, ou seja, a corte que predominava naquelas regiões!). Casamento era, nesse contexto, um acordo comercial, onde a união dos herdeiros representavam sempre um lucro para as famílias envolvidas. Seja a conservação das fortunas conquistadas, dos bens materiais, seja a aquisição de títulos, havia sempre um interesse por detrás da escolha e a que fosse mais conveniente para os envolvidos era realizada. A vontade própria, do casal a ser unido, não era levada em consideração.

Ainda hoje, passado seis séculos do surgimento do tarô, há interesse envolvido nos relacionamentos e não raro pais forçam seus filhos em direção à determinada pessoa X ou pessoa Y. Logo, não é difícil associar a simplicidade do símbolo clássico d'O Enamorado. Ele está em dúvida entre exercer a escolha feita por conveniência, unindo-se à quem fora anteriormente "vendido" dentro da tradição (O Hierofante ou O Papa, arcano V) ou unir-se à donzela que ele conheceu um dia, por acaso, onde ela era uma "pobre camponesa do campo que ia todos os dias ao bosque colher lenha" e ficou "ENAMORADO"! Em outros termos, encantado - simples assim. Ele seria muito sortudo mesmo se a donzela prometida fosse aquela por quem se encantou.

Agora imagine que o pobre moço tenha que escolher entre o amor de sua vida e a conveniência imposta pela tradição. Por isso o tarô mostra ele unindo-se a uma (a da tradição), enquanto olha para a dama-objeto de sua vontade, que é deixada para trás. Mas claro, se ele resolvesse escolher de fato por sua vontade e pela verdadeira amada, o veríamos vestindo uma armadura de coragem no arcano seguinte, disposto à lutar, n'A Carruagem, arcano VII.

Se seis séculos se passaram, sempre com a repetição das mesmas histórias, mudando apenas as personagens envolvidas, nada mais justo do que deixar de se preocupar se eles se casaram ou compraram uma bicicleta e voltar à pergunta inicial: Qual foi a motriz dos fatos, que desencadeou a escolha e os fatores em questão?

Veja bem. Ao descrever as circunstâncias explicativas acima, coloquei algumas palavras em negrito, cujos significados são automaticamente associados à tão enigmática Roda da Fortuna. Se explicada, fala sobre ciclos, alternância, sobre movimentos de mudança, ação e reação, surpresa, ser pego pelo inesperado ou arrastado pelas circunstâncias. Mas esta é a roda do destino. Boa ou má fortuna são resultados possíveis, dependendo somente das ESCOLHAS.

Mas a forma de me fazer entender é falar de modo a tocar o seu coração, para que não reste dúvidas de que amar alguém é obra do destino. E o modo que escolhi para fazer isso é, através de uma série de músicas, exemplificar de forma prática. Pronto para uma viagem musical? Então pressione Play, abaixo.


Tudo começa com Ana Carolina, em Carvão (2006, Álbum Dois Quartos, Sony BMG). O futuro enamorado é apenas um jovenzinho quando a Roda da Fortuna começa a agir. E sobre fatores absolutamente tachados como coincidência, a sincronicidade o leva a ver pela primeira vez os olhos daquela pessoa por quem se apaixonará.

"Surgiu como um clarão, um raio me cortando a escuridão" o desperta para aquele olhar, que lhe causa um inexplicável interesse "e veio me puxando pela mão por onde não imaginei seguir". Surge sentimento intenso e inexplicável, um misto de assombro, interesse e medo, o que coloca toda a estrutura racional em conflito e termina nele, se questionando, "não sei quem é você". A Fortuna lhe pegou, meu caro jovem. E você foi encantado.


A curiosidade, que tomou conta, o impulsionará automaticamente à comunicação. Ele vai querer se aproximar, cercar-se da pessoa e de alguma forma, vai querer satisfazer sua curiosidade. E o diálogo, explícito, será trivial, porém, implícito, estará a intenção. A comunicação verbal e não-verbal ocorre, sendo que nenhuma música poderia melhor para retratar tal momento do que I've Got This Friend (2011, Álbum Barton Hollow, Produtor Charlie Peacock), da dupla The Civil Wars.

Uma apresentação onde cada um fala de si mesmo em uma imagem fictícia de uma terceira pessoa e termina com a conclusão de que "ela parece adorável" e "ele parece surgido diretamente de um sonho". Já entregue à necessidade do enlace, nosso enamorado entende que "seria uma pena se eles não se encontrassem", pois ali entenderam que são "a pessoa certa" um para o outro. Fortuna, meu caro enamorado, te conduziu. E te enredou.


E a Fortuna, inevitável, acontece. O beijo, tão esperado. A troca entre duas almas, o contato, selado ali, lábio tocando lábio. E a química entre ambos se expressa. O instinto aflora e toca o ser num nível que vai além do emocional. "Voltar aos dezessete, depois de viver um século" é a sensação causada, pois nada que houve antes importa mais e ali tudo recomeça. Os lábios "vão se envolvendo, envolvendo, como a hera sobre o muro" e o sentimento "vai brotando, brotando, como o musgo sobre a pedra".

O corpo alquímico está se transformado, os olhos percebem tudo como se estivessem tingidos de rosa. A respiração aumenta, o coração dispara. Hormônios são lançados no sangue "com todo seu colorido tem passeado por minhas veias". Medo se intensifica em "meu passo retrocede quando o teu avança" mas a certeza atinge o interno na "arca das alianças penetrou em meu ninho". É Volver a Los Diecisiete (original de Violeta Parra, 1966, Álbum Las Últimas Composiciones, RCA Victor), interpretada maravilhosamente por Mercedes Sosa e Milton Nascimento.


Os lábios desgrudam, o olhar do enamorado se vê em outro mundo. "Você faz meu coração bater mais rápido" e ele sai de si mesmo. Toda uma imensidão de detalhes se torna perceptível em sua visão, como se enxergasse o mundo pela primeira vez. "Você me vira ao contrário, até eu não poder mais me controlar", é cantado em Faster (2011, Álbum Modern Love, Produção Mark Weinberg and Matt Nathanson, Marshall Altman), de Matt Nathanson.

Uma espécie de euforia misturada à timidez toma conta e a Roda da Fortuna gira velozmente em seu peito. "Você tem o sabor da luz do sol e de chiclete de morango", pensa, alucinado, tentando descrever pra si mesmo sua própria experiência. Entregue ele está, "você me domina" e agitado, "pois eu pulo, caio, rastejo, imploro, roubo, vigio". Agora o limite de si mesmo foi ultrapassado. Quer consumir-se no corpo encantado que vê em sua frente. E o enamorado se vê, rodopiando com a Roda (da Fortuna).


Ansiedade, pele, cheiro, toque, feromônios. A Roda da Fortuna, girando velozmente, faz o enamorado perder o controle mental. Sua persona é tomada pelo seu animal interno, puramente instintivo e a luxúria começa a tomar conta de si. "Você... seu sexo está em chamas". "Lábios macios estão abertos". "Quente como uma febre, ossos tremendo, eu poderia apenas provar." A libido está aflorada e há mais a se descortinar.

É chegado aquele momento intenso. Do rosa, o tom perceptível pelos sentidos beira o vermelho. O calor dos corpos aumenta. E o enamorado se torna "consumido com as palavras que você transpira", em Sex on Fire (2008, Álbum Only by the Night, RCA), da banda Kings of Leon. O movimento, o sobe-e-desce, a velocidade, o descontrole. É a ação do Arcano X, a Fortuna, a Roda da Fortuna, a unir Os Amantes, a torná-los um só. E concluir sua ação.

Aonde terminará essa viagem? Não está escrita no destino. O destino fez sua parte, os colocou frente à frente. Sem escapatórias. Tirou-lhes o fator racional e controlado para lançá-los em uma jaula, como feras instintivas, que são. Sem máscaras, apenas viventes. Puro sentimento. Então, à partir de agora, são escolhas. Deste passo em diante sim, terá-se que decidir qual o melhor caminho a seguir. E então, verdadeiramente, inicia-se o processo do arcano VI.

Uma vida juntos? Uma vida separados? Apenas um momento? Uma entrega? As possibilidades são ilimitadas. E não se resumem apenas em escolhas banais. Para concluir a viagem musical, um último vídeo. Love The Way You Lie (2010, Single, Produção de Alex da Kid), por Eminem e Rihanna, retratando o mais puro instinto, o fogo que consome os amantes. Amor e ódio fundidos e soltos na animalidade.


Eu, Adash Van Teufel, prefiro correr o risco de provar o sabor do beijo à beber do amargo da dúvida. E você, o que prefere? Arrisca-se à Fortuna ou segue pelo que lhe parece conveniente? Pense à respeito!

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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

* Encontrando a certeza

O Pendurado ~ Golden(es) Botticelli Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

De repente abri meus olhos. Meu corpo estava tão dormente que parecia anestesiado. O que me fazia pensar por quanto tempo estava daquele jeito, naquela mesma posição. Tentei me mover sem forçar e percebi que não conseguia mexer um só músculo, totalmente exaurido de energia, totalmente cansado pela dor. A dor percorrera da cabeça aos pés, parecia sentí-la até nos fios de cabelo esticados pela gravidade em direção ao solo.

Sem conseguir me mover, olhei para cima - e tudo o que vi foi o gramado verde onde se sustentavam dois troncos. Ambos desciam em direção aos céus, sendo unido em seu cimo-raiz por mais um. E era neste, fatídico, onde uma corda me suspendia. Eu estava pendurado pelo pé. Há tanto tempo que já não sabia sequer mais como executar qualquer movimento.

Perdi a referência do que era acima e do que era abaixo. E dizem que todo o cristão verdadeiro anseia pelo céu. Meu céu, ali, totalmente gramado, fazia sentir-me o pior dos pecadores, pois alcançá-lo era o desejo impuro de apenas poder voltar ao solo.

Por um momento, pensei que o sangue pressionado em minhas veias descendo em direção à cabeça estava me fazendo ter alucinações. Estar ali, vendo tudo de cabeça para baixo, me desorientava. Nem quando criança, a brincar, plantando bananeiras contra o solo, em meio à brincadeiras com amigos, sentia toda aquela agonia. Não imaginei que o que era uma diversão pueril poderia virar castigo de adulto. Um castigo que, ali sofrendo, não desejava a ninguém mais.

O dia, ensolarado, estava tomado por uma brisa refrescante, daquelas românticas de final de tarde, que esvoaçam cabelos no encontro de amantes e compunham um cenário perfeito, salvo o fato que, ao tocar minha pele dolorida, era como se milhares de alfinetes me encostassem ao mesmo tempo. O que só piorava, ao invés de me dar algum alívio.

Se desgraça pouca era bobagem, minha mente percebeu-se de repente invadida por sons. Pessoas passavam e gargalhavam da situação. Riam de mim, riam daquela humilhação pública. Pois, afinal de contas, todos sabiam. Um homem pendurado em público era acusado de algum delito qualquer, não importava se fosse culpado ou não. Inútil nesse instante era bradar por inocência, pois para todos, ali estava alguém a quem culpavam por sentirem-se eles mesmos injustiçados pela vida. Ou seja, o homem pendurado, quer quisesse ou não, era tido como o traidor, o grande vilão.

O vento começou a fortalecer e levemente me balançar. O vai-e-vem do meu corpo suspenso começou a me deixar tonto. O contato da corda com o tronco fazia a madeira ranger. Àquela altura, o som era agoniante. E a tristeza tomou conta de mim, pois nada mais podia fazer. Sem resistir, deixei o pranto rolar e quando as lágrimas cessaram, fui invadido por um torpor interno. Nada mais poderia ali fazer, pois já não dependia de mim sair daquela situação.

No fundo, sabia que não era culpado. Mas estava ali, pagando o alto preço. Então, sem pestanejar, senti meu coração. Ele não parara de bater. Eu ainda estava vivo e o sangue prosseguia fluindo em minhas veias, como a água represada que não cessaria de molhar a mão que fosse tocá-la. Então, num súbito acesso de fé, concentrei-me nas batidas e apenas pedi o que minha boca teve tanta dificuldade em ali pronunciar: "Misericórdia". Misericórdia de mim, pois sou inocente.

O Pendurado ~ Golden Dawn Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

Subitamente, as gargalhadas cessam, junto com a dor. A cena se transfigura e o chão gramado, acima de meus olhos, transforma-se em um grande mar. Não sem me causar espanto. E então percebo estar suspenso entre rochas, acima das águas ondulantes. Meus ouvidos, agora intoxicados pelo som do mar, ouvem a voz, que mais parece um sussurro:

- Por que deixaste o orgulho causar-te tanta dor? Robusteces o peito e infla-o com um ar de soberba, com qual finalidade? Pois cada passo que tu dás não te libertas da fera anterior que antes domei com o toque do amor? Por acaso não terá sido eu a te dar alegria?

Reconheci aquela voz, vinda dela, atrás de mim. E entendi. Estava dormindo novamente, sonhando com aquele enredo, que antes parecia tão real. Era ela, a mesma bailarina que me domou, quando sonhei estar no circo. Sua voz era de tamanha delicadeza que parecia música aos ouvidos e tão suave como o toque que, no outro sonho, tocara minha juba.

Princesa de Copas ~ Via Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

Então ela deu passos em minha frente, como que flutuando sobre as águas. Percebi seus pés delicados, seu vestido brilhante de pura luz e, em sua mão, uma taça. Sua expressão era tão juvenil e inocente, que mais parecia uma menina a uma mulher. Olhando-a, com dificuldade, pude lhe dizer:

- Quem é você?

- Sou aquela que habita teus mundos internos. Sou aquela que está no início e te conduz ao fim. Meu nome é, em teu vocabulário, Alma. Meu dever, para contigo, é mostrar-te tuas próprias falhas, para que tu mesmo possas corrigí-las.

- E por que estar agora, aqui, expiando aquilo que parece ser os meus pecados?

- Porque anseio pelo momento em que tu entregarás tuas próprias defesas. Eu vim na manhã, nas lâminas do teu tarô, pedindo-te tudo. Nada mais deve restar aqui, em teu mundo interior. A isto chamo recomeçar. E tu pediste a misericórdia, agora. Se estiveres disposto ao recomeço, levo-te à libertação. Renda-te, não há outra saída.

Acenei afirmativamente, com a cabeça. Seu vestido de luz se escureceu. Seus delicados pés tornaram-se esqueléticos e sua taça tornou-se uma foice, segura por mãos de ossos, sem pele ou carne. E tão rápido quanto a foice cortou a corda que me suspendia, caí no mar, em um mergulho vertical. A água foi como um bálsamo de alívio e cura. Foi como puro amor, o colo de uma mãe, uma canção de ninar, que apenas me convidou a adormecer. Não sem despertar, de sobressalto, com o apito do trem, chegando na estação onde eu deveria descer.

O trem parou. Guardei a carta do Louco que ainda segurava em minha mão. Peguei a mochila e levantei, indo em direção à porta. As coisas agora pareciam fazer sentido. Um sentido inexplicável e diferente. Eu fui sim ao encontro do amor. Mas ela me encontrou primeiro, me trazendo o amor. A Alma. E agora, sabia que poderia descer seguro, pois meu coração estava cheio de certeza. Certeza acompanhada pela voz, em minha mente, lembrando Gerd Ziegler e o Espelho da Alma:

"Os quatro querubins sopram o espírito que tudo penetra em todas as quatro direções. Vê, tudo é novo!"

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ZIEGLER, Gerd. Tarô espelho da alma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993, p. 72.

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

* Era a hora. Mas de renascer.

Morte ~ Medieval Scapini Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

De repente, acordei de sobressalto. Havia sido tão intensa a percepção daquela carta na mesa, na noite anterior, aquele Ás que pedia um recomeço, reacender a chama, que acabei por dormir sobre elas. A janela aberta durante a noite toda teve sua vantagem. O cheiro do velho havia desaparecido e permanecido somente o aroma de incenso.

Era madrugada ainda, tingida pelas primeiras cores do amanhecer no horizonte. Olhei as montanhas ao fundo, através da janela, lá longe. E vi que em minutos o sol se levantaria. Tudo estava recomeçando, como se o que acontecera, até então, houvesse morrido. Sem levantar da cadeira aonde adormeci, mais do que depressa retirei uma carta do leque espalhado. E o tarô não mentiu: Ela, a funesta inominada, saiu daquele maço.

Morte. Na casa do passado. "Eu vim buscar aquilo que é meu", parecia dizer, erguendo sua foice com mãos esqueléticas. "E não vai sobrar nada que não tenha que sobrar". Não tive como não me assombrar. Eu sabia muito bem o que ela queria. As memórias. Aquelas cabeças cortadas sob seus pés, reis e pessoas comuns que pediram por sua misericórdia, mas não tiveram. A foice havia cantado num golpe só. Um golpe rápido e fatal. Mas nem por isso indolor.

O contexto estava claro. Era a memória de tantos anseios não realizados, tantas vontades diferentes, onde minha própria cabeça teceu ideias de grandeza ou ideias vulgares. Vi meu rosto refletido em cada uma daquelas cabeças espalhadas, como se fossem flores que enfeitam um jardim, para a Morte. Todos aqueles anseios foi a razão pela qual envelheci. A cabeça não mais suportava tanto peso das memórias. E então entendi o porquê das minhas costas doerem.

À Morte, o que é da Morte. O que lhe pertence. Mas seriam somente as ideias, que ela queria? Então abri a carta do presente. Concentrei, retirei do maço. E surpreso fiquei com a confirmação, do agora, desse exato momento, ali. Ás de Espadas. As ideias coroadas. Objetivos, propósitos, certezas e direcionamentos. A Morte veio buscar o pacote completo. Não me deixaria ficar com nada. Aquele Ás, ali, cantou em meus ouvidos como a foice cantava na carta anterior. E não me restaria mais nada, soube disso ali. Deveria entregar tudo. Por um momento, vislumbrei. E agora, futuro incerto, sem nada daquilo que eu já havia há tanto definido em mim? Fechei os olhos, pois temi a dor. Temi que persistisse a dor e o luto.

Ás de Espadas ~ Crowley-Harris Thoth Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

Olhava para o Ás. Se deveria entregar tudo, o que restaria de mim? Afinal, foram as ideias que adquiri durante o tempo que delinearam quem eu era. Defini a mim mesmo pelas atitudes que tomei. A forma como conduzi tudo. Sempre tentando fazer o meu melhor, em cada momento. Mesmo que por muitas vezes nada havia dado certo. Mas a certeza de quem eu era estava clara. Clara como aquele Ás de Espadas. Será que deveria brigar com a Morte e levar comigo o que eu tinha certeza que me pertencia? Meu eu, minha referência? Minhas mãos começaram a tremer. Eu devia ver o futuro. O futuro que tanto fugi em tempos passados. Mas que esclareceria o rumo que estava se expressando naquelas cartas.

Respirei fundo. Nova concentração. Retirei a carta do maço. Estendi sobre a mesa, sem a abrir. Precisava respirar um pouco mais. Inspira, expira. Coragem, onde está você? "Abra-a, Adash" - ouvia a mente gritar - "Abra-a"! Inspira, expira. E nada da coragem chegar. Fazia uma enorme força para descobrí-la em mim. Precisava ousar abrir aquela última carta. Levantei a mão e fui guiando-a, trêmula, até a carta. Pousei minha mão sobre ela. Ergui, delicadamente, sem virá-la. Mas a soltei. Não conseguia. O momento estava forte demais. Frustrei-me por não conseguir ser livre o suficiente e olhar a resposta.

Se a Morte quer o que pertence a ela, então a vida deve saber o que faz. Pois ali, sentado, eu senti. Um calor delicado tocou meu rosto. E como ser abraçado pela vida e pela esperança após um longo inverno, após um luto infindável - ou uma morte em vida? - fui tocado pelos primeiros raios de sol, que estava se levantando no horizonte. Ele vinha aquecer minha face e tocar minha alma, após uma longa noite naquele velho estúdio que agora já se renovava.

Olhei para fora, um dia lindo estava surgindo. O ar matinal era incrível. Um alento que parecia curar todas as dores, aromático com o perfume das flores. Encorajador, convidativo e inspirador. Levantei-me, finalmente. Olhei pela janela, aquela visão magnífica da vida e do mundo. Tomei-me pelo impulso e corri, ouvindo finalmente o som do despertar. Um despertar que tanto queria sentir.

Peguei uma mochila. Coloquei dentro um caderno de sketches. Alguns lápis de cor, uma caixa de incenso, isqueiro, cigarros. E seria o maior traidor do mundo se deixasse elas ali. Reuni o tarô de volta em um maço, enrolei em seu pano acolhedor. Mas deixei de fora, sem abrir, aquela carta reveladora. Guardei-o na mochila, levando a carta retirada comigo no bolso do meu casaco, sem vê-la.

Saí porta do estúdio à fora. Respirei profundamente o ar perfumado, os raios de sol, a vida florescente e os pontinhos brincalhões, de prana, que faiscavam o azul do céu. À beira da escada, Aleph latiu. Meu cãozinho, abanando o rabo, parecia abençoar minha nova ideia. Então corri, desci até a estação, com um sorriso satisfeito. Paguei a passagem, entrei no trem. E o apito que me despertou, minutos atrás, soou de novo anunciando a partida. Uma viagem, curtinha, mas em busca de inspiração.

À mente, me veio J.G de Araújo Jorge. Eu sabia o que buscava. Eu sabia o que queria. Como o título do poema, "Um Novo Amor". Recitado, como em um sarau, os versos me tomaram por completo:

"é como se abrisses os olhos para a vida
naquele instante,
como se para trás nada tivesse havido...
Nasces com um novo amor! E viverás de novo
o mistério deslumbrante
do que há de acontecer, como se nunca tivesse
acontecido..."

E o trem partiu. Agora era o meu momento. Retirei aquela carta do bolso e a olhei, profundamente, compreendendo tudo. Não sem um sorriso no rosto. Não sem me ver, ali, estampado. Não sem encontrar o som no interno que preenchia todo o vazio. Lá estava ele. Profundo, inspirado, entregue ao que quer que pudesse acontecer. Lá estava ele e nós estávamos juntos. E só senti uma imensa gratidão - por tudo. Pois havia sido abençoado por sua presença, ali, em meu jogo. O espírito da primavera. Ninguém e nada, ou menos que O Louco!

O Louco ~ Tarot Classic ~ Gassmann - Fonte: Albideuter.de

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domingo, 18 de setembro de 2011

* Ecos - por Anna Carbonera

Anna Carbonera

Anna Carbonera, fotógrafa e poetisa, é por si mesma uma continuidade da arte que exterioriza. Sendo capaz de tocar o coração e o olhar das pessoas pelas quais passa, deixa em todos uma semente de fé e confiança, plantadas através de sua devoção à espiritualidade e ao tarô. Em suas poesias, transparece seus ideais e seu modo próprio de interpretar suas percepções do todo, traduzindo sentimentos em palavras. Percebo sua alma através dos versos de Existência, um de seus poemas publicados na Antologia Caxiense de Poetas:

"Quando as flores deixarem de existir… vou com elas
Quando a dor exterminar o lirismo cesso
"

A seguir, apresento Ecos, uma poesia cujo significado remete ao arcano XVIII do tarô, A Lua. A reverberação emocional só é percebida através do silêncio.

A Lua ~ I Tarocchi degli Angeli ~ Lo Scarabeo

Ecos


Ouço gritos longínquos e temo
temo que possam existir em mim
O medo desaponta
lembra-nos a fragilidade interna
Esteriliza a alma
sublime condensação
São ecos da solidão

O tempo não limita a saudade
a serenidade se faz loucura
A loucura vaga em distantes lembranças
o duelo exige perseverança, ponderação
Os sensatos preferem a morte… interação

Neste silêncio extenso
o vazio das palavras
Nas frases exorcizadas
a meia verdade dissimulada

Desfalece no olhar casto
a última gota de saudade
Existe o silêncio
as imagens descontínuas
O despertar dos questionamentos
Lamentos

Encontrei olhos que tinham o poder da comunicação
Hoje são ecos…
…ecos de solidão

nesta temporária separação faz esmaecer
a vivência, mas o vínculo existe e o
Ensinamento persiste neste fragmento de
Existência…

À LUIZ CARBONERA

-- por Anna Carbonera

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domingo, 11 de setembro de 2011

* Arte

Arte ~ Crowley-Harris Thoth Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

Somos o fogo e água.
Somos opostos, sombra um do outro.
Mas nossos olhares se reconhecem.
E nosso desejo nos leva ao descontrole.
O fogo quer ebulir.
A água quer apagar.
Ambos são como a droga, um para o outro.
Vício. Virtude. Pecado. Aniquilação. Intensidade.
Mentira. Verdade. Medo. Coragem.
Ver. Ouvir. Tocar. Sentir.
E Harris, brilhantemente, os mistura.
Numa mistura em que suas naturezas se fundem.
Deixa de lado a Justiça, a Fortaleza, a Prudência e a Temperança.
E a chama de...

Arte.

* Nem gatos miando na canção noturna. Nem o som de um violino imaginário... Mas ambos em duas vozes plasmadas, uníssonas.

E, da amiga Caroline Jamhour, a pérola: "Aprenda esse fundamento da magia: da água pode vir o fogo, como da noite vem o dia".

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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

* Fúria de amar

Força ~ Ananda Tarot ~ Fonte: Albideuter.de

E de novo e de novo - e mais uma vez. Se havia uma palavra para definir o meu sentimento, eu diria que estava farto. Era aquela gritaria, que se silenciava ao menor anúncio, por expectativa do público. O chamado "respeitável".

Eram incessantes ao ponto de serem ridículas aquelas cenas todas, dia após dia de apresentação, eram gargalhadas e risos de um palhaço, que por trás das cortinas, estava mais para pierrot.

O mundo, eu enxergava como por trás das grades. Um grande picadeiro e uma grande jaula. Favoritos do público, ansioso pela minha apresentação. Mas as grades tinham seu aspecto mágico. Enquanto existiam, eram a garantia de que eu estava à salvo daquelas pessoas. De que elas não me tocariam, poderiam se aproximar e ver, mas eu mantinha o meu glamour intocável, podendo olhá-las à distância. E elas eram onívoras. Famigeradas por risos descontrolados, provocados por fantochadas. Sim, eram fantoches, só fantoches.

Minha ira só aumentava, por ver os meus não perceberem. Pareciam hipnotizados por continuar com suas apresentações esdrúxulas. Com suas bandas e suas músicas. Com maquiagens, enfeites no rosto e cabelos. Com seus contorcionismos que, com certeza, não tornavam suas carnes mais macias.

Nesses momentos de descontrole, meu desejo era apenas por carne. Sim, estava sanguinolento demais. E a cada dia alimentava o desejo intenso de atacá-las, uma a uma. Ver pais correndo desesperados, tentando salvar as crianças das minhas mandíbulas. Mas jamais lhes faria qualquer mal, afinal, tudo o que eu queria era assustá-las, para poder demonstrar o quanto suas presenças ali, por uns trocados, denegriam o meu orgulho e maculavam minha honra.

Chegou o tempo e ouço o chamado. Era minha vez, minha grande entrada, a mais aguardada da noite. Lá viria um homem com uma roupa ridícula e um chapéu obtuso pensando ser capaz de não sucumbir a minha força. Para que eu pudesse dar saltos programados, passos ensaiados e ouvir gritos estupefatos de um público questionável.

Mas foi de repente que tudo ficou em silêncio. A música que começou a tocar era diferente. E o que vejo, surpreendido, ao tilintar daquele grande cadeado: Abrem-se as grades e adentra ao meu espaço a mais doce de todas as criaturas. Ela, uma jovem bailarina, com um encanto e tranquilidade além do comum, se aproxima, despojada de todo o medo, mesmo com meu olhar ferino e agressivo. Passo a passo chega em sua dança até estar à minha frente. Eu posso estraçalhá-la. Eu posso dar fim dela. Ela está ali, ao meu alcance, plenamente sob o meu poder.

E eis que o mais suave dos toques levemente encosta em minha juba. Alisa-me gentilmente e me paralisa por completo, enquanto a mão dela desce em direção a minha face. E eu sinto o toque do amor. E eu vejo o amor em seus olhos. E minhas pernas tremem, perdendo sua força. E meu coração, palpitando, se enche da mais plena graça. Ela ali, frágil e bela, desarmava-me com sua Força, de plena delicadeza, como a suavidade de uma pluma. E eu, entregue, rendido e seguro pelo toque do amor.

Raiva de amar, ira de amar, fúria de amar! Sufocaste em mim o extremo rugido, óh amor! Da fera que sou, sobrou apenas em mim um leão, ali, domado. E o público, então, se extasiou em aplausos. Era alegria...

"Alegría" ~ Cirque du Soleil ~ 1995 ~ Composição: Robbi Finkel e René Dupéré.

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

* Ele deseja o céu como suas vestes

"He wishes for the cloths of heaven" ~ William Butler Yeats ~ 1899 ~ The Wind Among the Reeds.

"He wishes for the cloths of heaven"

HAD I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly, because you tread on my dreams.

-- William Butler Yeats


Tradução (feita por mim):

"Ele deseja o céu como suas vestes"

TIVESSE eu os céus como vestes bordadas,
Ornamentadas com luz dourada e prateada,
O azul e o pálido e as negras vestes
Da noite e luz e a alvorada,
Eu estenderia estas vestes sob seus pés:
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas meus sonhos;
E os estendo sob seus pés;
Pise gentilmente porque você pisa sobre meus sonhos.

-- William Butler Yeats

A descrição inicial do vídeo diz: "Em 1889 W.B.Yeats conheceu Maud Gonne, uma atriz e revolucionária irlandesa, que se tornou seu grande amor pelos próximos 20 anos. Ela foi a inspiração da vida dele e sua imaginação. Todavia, ele nunca recebeu o amor dela em retribuição."

O Cavaleiro de Copas oferece seu coração à Rainha de Espadas,
que lhe recebe com a mão em guarda - Crowley-Harris Thoth Tarot.

Como uma bela descrição devocional do Cavaleiro de Copas oferecendo seu coração em admiração à Rainha de Espadas, o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, em 1923, William Butler Yeats, sintetiza em sua poesia o feitiço do amar. Amar é estar repleto de inspiração, é tomar-se por uma onda mágica que idealiza o outro para nós mesmos. Nossos olhos se preenchem, encantados pela beleza do outro e tudo o que desejamos é oferecer o melhor de nós. Mesmo que sejam apenas sonhos, a serem compartilhados. E mesmo que a beleza do outro esteja apenas refletindo os nossos próprios olhos...

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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

* Levando luz à escuridão

O Eremita - Led Zeppelin - Fonte: Google.com

Risco um palito de fósforo. Após uma pequena explosão de chama descontrolada, o seguro firme e direciono ao pavio da minha lanterna. Ergo-a, encaixando seu arco em um gancho na parede e a luminária estabiliza uma luz suficiente para enxergar o ambiente ao meu redor. É o meu estúdio. E nele, um cavalete empoeirado ainda segura antigos esboços, amarelados e mofados onde a aquarela, há muito tempo ressecada, tentou colorir.

Aos poucos, caminho no breu em direção a uma janela próxima, para que entre um vento e possa renovar o ar. O cheio característico das tintas ainda divide o lugar com outros elementos odoríficos que mais parecem remeter-se a uma casa antiga abandonada onde antes houvera vida. Também existe tabaco queimado impregnado nas paredes manchadas de nicotina e alcatrão, como gotas de suor que escorreram em dias de intensa umidade.

Emperrada, com um pouco de esforço, a janela cede e ergo seu vidro. O suporte de metal já estava enferrujado, mas como uma asa de borboleta tingido de cor. Ainda segura bem a janela erguida e me detenho a abrir a veneziana, que range com sua madeira envelhecida. O vento agora era livre para entrar. E circular, arrastando consigo aqueles cheiros.

E acima de qualquer cheiro, permeia no ar um aroma de incenso. Tantos anos passados desde a última vez em que um fora aceso, mas sua alma parecia ainda habitar o lugar. De repente me lembrei do velho baú próximo àquele pires com o acúmulo das cinzas desses velhos palitos aromáticos. Como tomado por impulso, fui até ele. Abri, tomando seu conteúdo em mãos, para ser de repente afetado por todas as memórias já esquecidas. Delas, que eram as cartas de tarô.

Coincidência - ou não. Retirei-a do pano que as encobria e a carta que figurava sobre o maço era um Eremita. Por um breve instante olhei sua ilustração. E vi o quanto tempo perdi deixando aquela vida para trás. Eu estava velho, é verdade. Mas como o ermitão retratado também era iluminado por minha lanterna.


Quando levei a carta ao foco da lanterna, fui tomado por surpresa. Na minha mente, vi ali o que precisava ter visto. Estava no ato de riscar um fósforo. Que acendeu como o Ás de Paus e o fogo trouxe a luz para ser levado à experiência. Atear o fogo foi como ser tomado de novo pelo impulso da vida. Da minha remota juventude, do espírito aventureiro, da curiosidade original com a qual olhei para as cartas pela primeira vez - e que me levou a querer saber mais sobre elas!

Agora, eu sentia que era isso o que queria. Ser tomado de novo pelo novo. Sentir em minhas veias a pulsação da jovialidade. Ter de volta o mesmo espírito de outrora. Assim, mesmo com os conceitos enferrujados, lançados em algum lugar escuro da minha mente para esquecê-los, corri com elas para a mesa, empurrei pincéis e tubos de tinta empoeirados, para estender o pano e me entregar para aquela magia. Era tudo o que eu queria, ali. Poder ler de novo as cartas, abrí-las para mim. E ver as janelas do destino que deviam ser abertas, para arejar com ventos novos a vida que recomeçava ali.

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domingo, 12 de junho de 2011

* Um passo inicial

Bem-vindo ao Studio Tarot!

Muito obrigado por sua visita. Espero sinceramente que aprecie o material aqui apresentado e que retorne sempre que puder!

Aqui você encontrará minha forma particular de referir-me a este rico mundo do tarô, do autoconhecimento, da cabala e dos florais de Bach. Todos estes conhecimentos juntos, transmitidos através de um toque artístico, onde cada palavra foi medida antes de ser escrita, como uma suave nova pincelada em uma tela que está se compondo.

Cada texto será separado em uma categoria específica, para tornar fácil encontrar postagens semelhantes. Tomo a liberdade de apresentá-las abaixo e você perceberá que o link rápido para encontrá-las está no seu menu à esquerda, em "Catalogando a Obra: Selos."

Inspiração: Expressão da minha arte através da pintura e da escrita.
Definição: Estudos e ensaios sobre autoconhecimento, tarô, florais de Bach e cabala, dentro da individualidade.
Técnica: O Caminho da Alma através da magia da existência.
Rabiscos: Contos e poesias inspirados.
Pinceladas: Diálogos culturais com blogs, apresentação de obras, autores e livros como referência e opinião.
Sombreamento: Percepções de conhecimento esotérico na mídia, música, cinema e arte em geral.
Iluminação: Experiências do cotidiano compartilhadas, cujo foco é o crescimento pessoal.
Retoques: Divulgação geral de encontros, palestras, cursos, eventos e workshops.
Assinatura: Apresentação do meu trabalho profissional enquanto terapeuta e tarotista.