O Estúdio do Tarô

"É no silêncio de seu estúdio que um artista se põe a viajar. Em cada pincelada, preenche camadas mais profundas de si mesmo, expondo-se na tela que ele vê em sua frente. A obra original que ali compõe é um retrato dele mesmo, em pequenas partes ou em totalidade. Arte e criação estão intimamente ligadas por um sublime limiar que é ele mesmo. Seus olhos focam sua mente e transformam a tela em sua frente, preenchendo-a passo a passo com a riqueza que ele percebe em sua imaginação."

- Autorretrato, por Adash Van Teufel


Um Ensaio sobre Espiritualidade



Os Amantes - tarô Crowley-Harris Thoth - Fonte: Albideuter.de

A ideia de desenvolver um ensaio para a internet surgiu em 2005. E algumas tentativas foram realizadas, em que a busca real era por criar um espaço onde eu pudesse compartilhar estudos, conhecimentos e descobertas que venho fazendo ao longo da minha caminhada esotérica.

A cada nova tentativa, percebia que, embora os textos que expunha criavam algum impacto, sentia a falta de algo que não conseguia definir. Num primeiro momento, a ausência de tecnologia me levou a abandonar as primeiras ideias. Depois, percebia que as ideias transmitidas não estavam em coerência com aquilo que ia descobrindo em mim e, num terceiro momento, percebia que o espaço virtual criado não era um espelho eficaz que transmitisse o que eu sou ou o que vejo em mim.

Em síntese, minha busca é por harmonia. Mas o conjunto expresso precisa ser uma composição de fatores, que envolvem minha personalidade sem idealizações ou exageros. Faz parte do meu ser a transparência. E preciso perceber, depois de pronto, que a obra expressa minha identidade.

Encontrar a própria identidade tem que ser parte de um mergulho interno. Delinear os limites, as formas certas, o conteúdo, o conhecimento do si mesmo. E com a devida coragem, trazer à luz do dia, aos olhos que veem de fora, mas sem a pretensão de esperar que o outro aceite ou rejeite a expressão. Parto, logo, do princípio da individualidade. Somos indivíduos, nenhum igual ao outro, com muitas semelhanças mas com enormes diferenças. E estes são os fatores que nos tornam ricos enquanto espécie, enquanto seres humanos.

Mas, até a criação do Studio Tarot, eu pequei por orgulho em assumir a tarefa, considerando que pudesse fazê-la sozinho. Estava enganado. E as tentativas anteriores, frustradas por mim mesmo quando percebia que haviam perdido o sentido, me mostraram que eu precisava de recursos, de espelhos, de apoio.

E foi graças a ter encontrado as pessoas certas, sincronicidades de "Alma", que hoje trago ao mundo o meu velho estúdio. Empoeirado por não ter recebido luz da consciência durante tantos anos, enquanto me ocupava de circunstâncias as quais hoje já não me são familiares.

Agora, torno oficial. Aos antigos leitores e aos novos. Cada um dos elementos aqui expressos sou eu, transparentes para que você o veja, aprecie e faça parte desta obra. Desta obra que é o meu Studio Tarot.


O Tarô


O tarô, um conjunto de 78 cartas pintadas, retratam imagens alegóricas através de elementos simbólicos. As alegorias são, a priori, formas de retratar a percepção de ideias relacionadas a elementos universais, nas quais os símbolos tratam de compor cada uma delas de modo a serem entendidas por quem observa as cartas.

Deste modo, o tarô pode ser usado para diversos fins, desde um jogo, um foco de reflexão, interiorização, inspiração e também seu mais famoso uso, que é como oráculo adivinhatório ou de autoconhecimento. Tal propriedade o torna uma obra de arte, pois além de seus desenhos, é capaz de transmitir ideias e sentimentos a quem a observa.

As cartas de tarô, quando lidas por um especialista (o tarotista), um estudante (o tarólogo) ou um praticante de leituras de "sorte" (o taromante), são capazes de transmitir ao consulente (quem recebe a leitura) os fatores, circunstâncias e tendências em sua vida, podendo assim exercer um papel fundamental para os momentos de dúvida, em que nos falta a clareza necessária para lidar com os acontecimentos em nossas vidas. Importantes ou não.

Ainda sobre o tema das denominações, cito Nei Naiff: "Tarotista é a pessoa que usa o tarô para fins taromânticos — nem todo tarólogo é um tarotista, e nem todo tarotista é um tarólogo. Encontramos ótimos tarotistas usando a vidência ou que raramente estudaram o assunto; então, não podem ser tarólogos, pois sequer sabem da história (documentada) da cartomancia ou da estrutura do tarô. Há bons tarólogos que conhecem perfeitamente as cartas e sua história, mas nunca jogaram profissionalmente — digo daqueles que jamais atenderam desconhecidos, cobraram pela consulta ou que nunca tiveram a coragem de jogar sequer para a família ou amigos — estes, também, não podem ser considerados tarotistas. E ainda existem aqueles que não são nem um nem outro, são apenas estudantes ou entusiastas. Mas nada disso invalida ninguém, uma vez que tais desmembramentos existem em qualquer área: nem todo advogado pode ser juiz, nem todo médico é cirurgião, nem todo ator consegue cantar. Portanto, cada um possui um dom ou a falta de oportunidade para uma prática efetiva; em todo caso, creio que são necessárias ponderações, visto que o mercado esotérico se expandiu muito nas últimas décadas e nem todos estão aptos ao ensino ou ao atendimento (presencial ou on-line)". - Tarô, simbolismo e ocultismo (volume 1 da trilogia dos Estudos completos do tarô), Nei Naiff, editora Nova Era.

Conheci o tarô em 1991, aos 9 anos de idade em um desses momentos importantes da minha família, onde as circunstâncias geraram dúvidas e ali nasceu um encanto. Me foi ensinado aos 13 e desde lá acompanhou toda a minha vida enquanto amadurecia. Aos 19, iniciei minhas leituras profissionais para consulentes, mas nunca deixei de ser um estudante, para não permitir que o orgulho do título me tolhesse a possibilidade de continuar crescendo com as cartas. Assim, o tarô é parte do que sou e minha leitura, uma extensão do que aprendi ao longo dos anos na busca por espiritualidade.


As Escolhas


As imagens das cartas do tarô são divididas em dois conjuntos. 22 delas são conhecidas como arcanos maiores ou trunfos e as outras 56 são chamadas arcanos menores ou naipes. Os trunfos são considerados unanimemente como as cartas mais importantes, por retratarem contextos de vida em seus desenhos.

O Enamorado, no tarô de Marselha e no tarô Visconti-Sforza. Fonte: Albideuter.de

E um deles, chamado "Os Amantes" ou "O Enamorado", é visto em algumas imagens como um homem posto entre duas mulheres, onde ele se volta para uma, mas olha para a outra. Alguns escritores traduzem esta carta como sendo símbolo da dúvida, um momento de encruzilhada da vida, sobre qual o caminho a seguir. Em outro contexto, a mesma carta é desenhada com símbolos que representam uma união, um casamento de opostos através de um terceiro elemento angelical ou sacerdotal. Permanece sendo interpretada como dúvida, mas ganha o sentido de união, associação e de entrega ao amor, entrega ao outro. Uma união que criará ou gerará frutos no futuro.

O que mais me encanta no tarô é esse contexto de coincidência ou sincronicidade. Em termos das cartas, isso quer dizer que vejo em minha vida um acontecimento cujos elementos estão exatamente relacionados com o desenho da carta em si.

Foi o que aconteceu comigo em 12 de Junho de 2011, em pleno Dia dos Namorados. Após um jantar belíssimo, em um ambiente finamente decorado com o tema amor, fui dialogando sobre a busca de um nome para este ensaio, quando surge o Studio Tarot. Eu estava em um momento de escolhas, mas também celebrando meu relacionamento, quando espontaneamente criou-se o nome e soou como mágica. Após esta definição, fui levado a ter outras ideias e conduzido a outras pessoas que puderam me auxiliar, cada uma ao seu modo, à construção este ensaio.

O que busco unir aqui, através do arcano VI, os Amantes, é o meu eu ao tarô. Expressá-lo através da arte e criar textos que retratem minha identidade. Identidade baseada em individualidade, ou seja, no meu modo particular de perceber e interpretar o mundo. E tudo com uma pitada de elementos do caminho que trilho, em busca de espiritualidade e da sabedoria dos antigos. O artista? Bem, este vai polindo e refinando os traços, enquanto segue aprendendo e compartilhando os mistérios do tarô!

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